(Livro-base: Art Needs no Justification, de Hans Rookmaaker)
É triste admitir que fizeram do cristianismo contemporâneo uma limitada dicotomia gospel versus secular. Sem, ainda, aprofundarmo-nos neste debate, vamos a um breve contexto histórico. Antes do Renascimento, a arte era apreciada pela excelência em mostrar os atributos coletivos do meio e do homem nele inserido e pela expertise de seus autores. Escultores, pintores, artesãos, alfaiates, todos tinham um papel vital e valorizado na sociedade.
Contudo, chegado o século XVIII, a Era da Razão, o papel do artista foi elevado a um status
(semi)divino, onde suas ideias geniais tinham a função de trazer o universo do extraordinário ao alcance dos apreciadores de arte.
Mais que isso, a ideologia do século XVIII pregou que o Cristianismo deveria estar dissociado dos “assuntos relevantes”: filosofia, ciências, Grandes Artes. Esta ruptura foi traumática, anticristã e sofremos dela até hoje.
Citando Hans Rookmaaker: se estudarmos os artistas de hoje e seus feitos, pouco somos alertados sobre quais eram as motivações deles, no que eles criam, pelo que lutavam.
Esses tópicos subjetivos estão fora do quadro. Consequentemente, pensamos que tudo que eles fizeram foi produto de seus próprios gênios. E aí está o problema.
“A arte pode ser entendida como a extração do que está dentro de si, daquilo do que se é feito. Numa matemática simples, sendo a raça humana imagem e semelhança de Deus, como poderia a arte estar separada do Criador!?”
'Os discípulos Pedro e João correm ao sepulcro na manhã da Ressureição' - Eugène Burnand, Musée d'Orsay - Paris, França |
Voltando ao contexto contemporâneo, percebemos que o Cristianismo que aprendemos nos cultos de muitas igrejas estão em grande falta com a transmissão deste conceito trivial. A arte precisa ser ensinada aos cristãos, o quanto mais jovens, como um atributo capaz de expressar a Glória de Deus. E, nós humanos, podemos através de uma linda canção, de uma melodia, de uma pintura ou de um simples Origami transmitir ao mundo a mensagem dEle. Pare, reflita e veja que os dons e atributos diversos que temos só refletem a complexidade infinita de nosso Senhor. Somos capazes de produzir algo encantador e atraente porque dEle veio a capacidade para tal. Não há dissociação possível.
Usemos nossos dons e conhecimento para transmitir o que de divino temos: o Espírito que em nós habita, o Criador que nos conhece pelo nome e o Filho que por nós escolheu morrer. Vamos usar o esplêndido dom divino de observar, de apreciar o que é agradável, de produzir o que pode agradar todos os cinco sentidos de outras pessoas para glorificar a Deus, revelar a soma de seus atributos. Apaguemos, então, da nossa mente a ideia leviana de que Deus só é bom em salvar almas, quando, através de uma cosmovisão bíblica, somos capazes de constatar que Ele age e pode ser (facilmente) encontrado nas Ciências, na Política, nos Esportes, enfim, em tudo!
'O retorno do filho pródigo' - Rembrandt van Rijn, Hermitage Museum - São Petersburgo, Rússia |
Por fim, sabemos que a Bíblia não dá nenhuma garantia de que o Cristianismo será novamente aceito como influente na nossa sociedade. Mesmo assim, nossa importante função é não nos esquivarmos das nossas responsabilidades de ser sal e luz da terra.
E, ser integralmente devoto, apontando e glorificando a Deus, através de um culto racional é uma responsabilidade nossa, como crentes no Senhor Jesus.
T.U.L.I.P.,
Y. Victor