Nos
dias de hoje, o individualismo e a independência humana são práticas
disseminadas massivamente em todos os segmentos da sociedade, seja por meio dos
veículos de comunicação, seja pela qualificação profissional, ensino escolar e
até mesmo pelo ensino eclesiástico, malgrado a missão deste último seja pregar união
e unidade da Igreja com fito de glorificar a Deus.
Diante
das individualidades – não o individualismo – dos membros deste corpo uno que é
a Igreja, debaixo de um bombardeio de ideologias antropocêntricas advindas do
puro egoísmo humano, cercados pela indiferença crescente desse mundo cada vez
mais virtual, como entender as situações e proceder para o progresso da unidade
do Corpo de Cristo?
Nosso
objetivo não é apresentar as soluções para todos os conflitos deste tema, mas
apontar alguns esclarecimentos sobre quem somos e como devemos nos portar a
partir daí.
Aqui
cabe salientar que, desde o princípio, Deus criou com variedade os seres
humanos. Primeiro criou Adão e Eva, variedade de gênero, homem e mulher
(Gênesis 2). Em seguida, Caim e Abel nasceram, lavrador e pastor,
respectivamente, variedade de ofícios (Gênesis 4).
Observe-se
que as individualidades têm que atender aos objetivos principais de sua criação.
Bem administrada, a variedade de gênero levou à multiplicação dos habitantes da
terra. Mal administrado por parte de Caim, seu ofício não obteve êxito em
agradar ao Senhor (Gênesis 4:5-7).
Em
seu Ministério aqui na terra, Jesus Cristo uniu diversos discípulos, entre eles:
os 12 apóstolos, Paulo e Matias. Os discípulos, de uma forma geral, eram
pessoas de diferentes classes da sociedade, com diferentes profissões, de
diferentes envergaduras culturais e econômicas e mesmo assim compunham a o
corpo da Igreja Primitiva.
Entre
os apóstolos, dos quais dispomos de algumas informações minuciosas, havia os pescadores,
o publicano, o zelote, os fleumáticos, os coléricos, os estudiosos, os tímidos,
os egoístas, os desconfiados, os honestos, os eloquentes e outros muitos
adjetivos, e, mesmo diferentes entre si, foram comissionados em grupo unido em
torno de algo comum a todos, o Evangelho de Cristo.
Em
boa parte das ocasiões, o problema não está nas diferenças entre as pessoas,
mas no manejo dessas diferenças.
A
Igreja local não foge a esse cenário. Somos todos membros diferentes de um
mesmo Corpo e com um objetivo em comum. Somos estudantes, motoristas,
policiais, professores, faxineiros, eletricistas, dentistas, arquitetos,
mecânicos - dentre uma gama de profissões. Somos pessoas calmas, explosivas, alegres,
sisudas, polidas, ríspidas, desinibidas, tímidas, dentre uma infinidade de
personalidades.
Todas
essas individualidades, se mal administradas, nos levarão sempre a dissoluções,
separações, conflitos, por causa da cobiça, da soberba, da intolerância, do
egoísmo.
Todos
nós fazemos parte da Igreja Visível, formando, naturalmente, um grupo
imperfeito de imperfeita conduta. Nas palavras de Agostinho “um corpo misto”
composto por crentes e não-crentes.
Quer
dizer que devemos nos acomodar com o joio crescendo junto ao trigo, usando o
argumento da “unidade a qualquer custo”? Penso que não.
No ensino
de R. C. Sproul, a missão do crente é fazer Visível a Igreja Invisível, santa e
imaculada, transparente mas vista por Deus.[1]
Ora,
irmãos, o que nos diferencia dos demais grupos sociais é nosso compromisso com
a Verdade do Evangelho. Se o mundo prega o individualismo, e nós a unidade, o
que se opõe ao singular? O coletivo.
Então,
como proceder, que recursos utilizar para obter êxito nesta missão coletiva?
Vejamos o que diz o texto de Efésios 4:1-32 e 5:1-2:
“Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no
Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a
humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,
esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da
paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só
esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só
Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em
todos. E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de
Cristo. Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e
concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia
descido até às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu é também o mesmo
que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas. E ele mesmo
concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e
outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos
cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais
sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por
todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem
ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a
cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio
de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio
aumento para a edificação de si mesmo em amor. Isto, portanto, digo e no Senhor
testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus
próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por
causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, os quais,
tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez,
cometerem toda sorte de impureza. Mas não foi assim que aprendestes a Cristo,
se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a
verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do
velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos
renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem,
criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade. Por isso,
deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos
membros uns dos outros. Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a
vossa ira, nem deis lugar ao diabo. Aquele que furtava não furte mais; antes,
trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que
acudir ao necessitado. Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim
unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim,
transmita graça aos que ouvem. E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual
fostes selados para o dia da redenção. Longe de vós, toda amargura, e cólera, e
ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia. Antes, sede uns para
com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também
Deus, em Cristo, vos perdoou.
Como
Cristo, usando de humildade, mansidão, longanimidade e suportando-nos uns aos
outros em amor, iremos nos tornar um Corpo cada vez mais ajustado, para
desempenhar bem o serviço pelo qual somos comissionados.
Nesses
dias de final de ano, sempre há quem diga que o ano vindouro será melhor. Mas
como acreditar nessa afirmação se “melhor” quer dizer “aprimorado”? E como
aprimorar se não há disposição pessoal em rever condutas e conceitos próprios?
Pensemos
e reflitamos sobre quão interessados estamos no coletivo em detrimento do
individual. Sobre o quanto estamos interessados em agir com humildade para
considerar o próximo em melhor estima.
“Os
gafanhotos não têm rei; contudo, marcham todos em bandos.” Provérbios 30:27
Finalmente,
quero dedicar este pequeno e singelo artigo a um amigo que faz aniversário hoje,
27.12.14. Ao Henrique Maravalha, que tem se tornado um amigo mais próximo que
um irmão, com sua vida tem ensinado sobre humildade, mansidão, longanimidade e
tolerância. Obrigado por fazer parte dessa unidade comigo, irmão.
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